Após quatro séculos da abertura do processo de canonização do Padre José de Anchieta, Papa Francisco assina decreto que torna santo o jesuíta espanhol do século XVI que dedicou grande parte de sua vida às obras missionárias no Brasil.
A assinatura do decreto, que havia sido anunciada pelo Vaticano ainda em Fevereiro deste ano, inicialmente marcada para acontecer na quarta-feira (2) do mês de abril, ocorreu de fato nesta quinta-feira (3), durante encontro entre o Papa Francisco e o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, responsável por todos os processos de beatificação e canonização existentes na Santa Sé. | Para a beatificação e canonização do jesuíta, poeta, gramático e pai da literatura brasileira, o Vaticano considerou sua vocação de trabalhos missionários realizados no Brasil, principalmente pela catequização dos índios no período da colonização e pela fundação de missões jesuítas em diversas províncias do país. Ainda que os milagres não tenham sido reconhecidos pelo Vaticano, há relatos datados do século XVII que apontam que eles aconteceram. |
A beatificação
Apesar da campanha para a sua beatificação ter sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só em Junho de 1980 o Padre José de Anchieta foi beatificado pelo papa João Paulo II.
Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, relataram conhecer o missionário e depuseram em seu favor no processo de beatificação. Leonor Leme, uma das depoentes, declarou que assistiu à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta em 1567, e que com ele se confessou depois muitas vezes.
"Todos o tinham por santo publicamente!" - Leonor Leme
Ana Ribeiro, depoente no mesmo processo, declarou que durante algum tempo se confessou com Padre José de Anchieta em São Vicente, e relata o milagre ocorrido com seu filho, Jerônimo, que na época tinha 2 anos de idade:
"Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao Padre Anchieta, que passava pela sua porta. 'Deixe-o ir para o céu', disse Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre".
A depoente narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando Anchieta à Vila de São Vicente pede a Antônio que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.
José de Anchieta é amplamente reverenciado tanto no Brasil, quanto nas Ilhas Canárias, local de seu nascimento. Na cidade de San Cristóbal de La Laguna há uma imponente estátua de bronze em sua homenagem, trabalho do artista brasileiro Bruno Giorgi. A estátua foi um presente do Governo Brasileiro e retrata José de Anchieta caminhando para Portugal. Também é venerada, na Catedral de San Cristóbal de La Laguna, uma imagem de madeira de Anchieta, que segue em procissão pelas ruas da cidade todo dia 9 de Junho, data da sua morte.
Segundo informações do Portal G1, o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, disse que a criação de um novo santo, ainda mais quando tem relação com o Brasil, é motivo de festa.
“Representa um membro da igreja que teve uma vida santa, fé profunda, amor ao próximo e que viveu integramente, ou seja, não fez mal ao próximo. É uma pessoa que representa um sinal de esperança para os outros”, reproduziu o portal ao comentário do cardeal. Ainda de acordo com o cardeal, a canonização de Anchieta era aguardada desde a sua morte.
Histórico
Nascido nas Ilhas Canárias, arquipélago pertencente à Espanha, Anchieta ingressou na Congregação Religiosa "Companhia de Jesus" aos 17 anos, e ficou responsável pelo processo de evangelização na América Latina. Os integrantes da instituição, chamados de jesuítas, existem até hoje, e o Papa Francisco é o primeiro deles a ser eleito como líder da Igreja Católica, em 2013.
Segundo historiadores, José de Anchieta chegou ao Brasil com 19 anos de idade, sendo um dos fundadores da cidade de São Paulo, em 1554, a qual teve a data de fundação no dia 25 de Janeiro por conta da carta que Anchieta enviou aos seus superiores da Companhia de Jesus. A carta dizia:
"A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa!"
Teve papel fundamental durante o conflito entre os índios Tamoios (ou tupinambás) e os tupiniquins, que teria ocorrido entre 1563 e 1564. Na época, os Tamoios, apoiados pelos franceses, se rebelaram contra os tupiniquins, e estes recebiam suporte dos portugueses. Para amenizar a situação, Anchieta se ofereceu para ficar de refém com os tamoios na aldeia de Iperoig, enquanto outro jesuíta, o padre Manoel da Nóbrega, foi para o litoral de São Paulo para negociar a paz.
Enquanto esteve de "refém", sua devoção à Virgem Maria o fez escrever na areia a obra “Poema à Virgem”, com quase 5 mil versos. A imagem deste momento foi retratada séculos depois pelo artista Benedito Calixto, no quadro que leva o mesmo nome da obra literária e que está exposto atualmente no Museu Anchieta.
Anos depois, foi nomeado Províncial do Brasil da Companhia de Jesus, responsável por todas as missões jesuítas do Brasil, e ficou conhecido como o Apóstolo do Brasil. Visitou várias regiões até morrer em 1597, aos 63 anos.
São José de Anchieta tornou-se o terceiro santo com laços estreitos com o Brasil. A primeira foi Madre Paulina, consagrada santa em 2002. Em seguida foi Frei Galvão, brasileiro nascido na cidade vizinha em Guaratinguetá-SP, proclamado Santo Antônio de Sant'Ana Galvão em 2007 por Bento XVI.
Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, relataram conhecer o missionário e depuseram em seu favor no processo de beatificação. Leonor Leme, uma das depoentes, declarou que assistiu à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta em 1567, e que com ele se confessou depois muitas vezes.
"Todos o tinham por santo publicamente!" - Leonor Leme
Ana Ribeiro, depoente no mesmo processo, declarou que durante algum tempo se confessou com Padre José de Anchieta em São Vicente, e relata o milagre ocorrido com seu filho, Jerônimo, que na época tinha 2 anos de idade:
"Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao Padre Anchieta, que passava pela sua porta. 'Deixe-o ir para o céu', disse Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre".
A depoente narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando Anchieta à Vila de São Vicente pede a Antônio que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.
José de Anchieta é amplamente reverenciado tanto no Brasil, quanto nas Ilhas Canárias, local de seu nascimento. Na cidade de San Cristóbal de La Laguna há uma imponente estátua de bronze em sua homenagem, trabalho do artista brasileiro Bruno Giorgi. A estátua foi um presente do Governo Brasileiro e retrata José de Anchieta caminhando para Portugal. Também é venerada, na Catedral de San Cristóbal de La Laguna, uma imagem de madeira de Anchieta, que segue em procissão pelas ruas da cidade todo dia 9 de Junho, data da sua morte.
Segundo informações do Portal G1, o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, disse que a criação de um novo santo, ainda mais quando tem relação com o Brasil, é motivo de festa.
“Representa um membro da igreja que teve uma vida santa, fé profunda, amor ao próximo e que viveu integramente, ou seja, não fez mal ao próximo. É uma pessoa que representa um sinal de esperança para os outros”, reproduziu o portal ao comentário do cardeal. Ainda de acordo com o cardeal, a canonização de Anchieta era aguardada desde a sua morte.
Histórico
Nascido nas Ilhas Canárias, arquipélago pertencente à Espanha, Anchieta ingressou na Congregação Religiosa "Companhia de Jesus" aos 17 anos, e ficou responsável pelo processo de evangelização na América Latina. Os integrantes da instituição, chamados de jesuítas, existem até hoje, e o Papa Francisco é o primeiro deles a ser eleito como líder da Igreja Católica, em 2013.
Segundo historiadores, José de Anchieta chegou ao Brasil com 19 anos de idade, sendo um dos fundadores da cidade de São Paulo, em 1554, a qual teve a data de fundação no dia 25 de Janeiro por conta da carta que Anchieta enviou aos seus superiores da Companhia de Jesus. A carta dizia:
"A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicamos nossa casa!"
Teve papel fundamental durante o conflito entre os índios Tamoios (ou tupinambás) e os tupiniquins, que teria ocorrido entre 1563 e 1564. Na época, os Tamoios, apoiados pelos franceses, se rebelaram contra os tupiniquins, e estes recebiam suporte dos portugueses. Para amenizar a situação, Anchieta se ofereceu para ficar de refém com os tamoios na aldeia de Iperoig, enquanto outro jesuíta, o padre Manoel da Nóbrega, foi para o litoral de São Paulo para negociar a paz.
Enquanto esteve de "refém", sua devoção à Virgem Maria o fez escrever na areia a obra “Poema à Virgem”, com quase 5 mil versos. A imagem deste momento foi retratada séculos depois pelo artista Benedito Calixto, no quadro que leva o mesmo nome da obra literária e que está exposto atualmente no Museu Anchieta.
Anos depois, foi nomeado Províncial do Brasil da Companhia de Jesus, responsável por todas as missões jesuítas do Brasil, e ficou conhecido como o Apóstolo do Brasil. Visitou várias regiões até morrer em 1597, aos 63 anos.
São José de Anchieta tornou-se o terceiro santo com laços estreitos com o Brasil. A primeira foi Madre Paulina, consagrada santa em 2002. Em seguida foi Frei Galvão, brasileiro nascido na cidade vizinha em Guaratinguetá-SP, proclamado Santo Antônio de Sant'Ana Galvão em 2007 por Bento XVI.